segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Jorge Garcia em entrevista ao Jornal "NOVA GUARDA"

Jorge Garcia o herói de Loriga
Cerca de 20 ciclistas e uma centena de automóveis acompanharam os últimos 20 kms do percurso de 2500 de Jorge Garcia, o ciclista “horizontal” de Loriga.

À sua espera, dezenas de populares na Senhora da Guia e muitas centenas na Carreira.
Na memória dos presentes não existiu em Loriga uma apoteose similar.
O povo gritava: Jorge! Jorge! Jorge!
O ciclista agradecia e afirmava que repetia o feito se fosse necessário, pois Loriga merece tudo.
A Carreira encheu, o povo aclamou, as câmaras da SIC registaram. Os mais chegados choraram. Homens e mulheres. Os abraços efusivos e apertados não escondiam o apreço que o povo de Loriga tem por este homem simples que procurou agradecer à sua Terra e aos Bombeiros Voluntários (BV) o muito que por ele fizeram em tempos idos.
Os emigrantes têm este condão: o de nunca esquecerem a sua Terra. O estar acima de politiquices e rivalidades locais. Para Jorge Garcia Loriga é o seu sonho, a sua paixão. A seguir a entrevista exclusiva que concedeu ao NG

NG: Jorge, fale-nos de tudo o que se passou ao longo destes 2500 kms de estrada. Os seus sentimentos e a sua motivação.
JG: Eu por Loriga fui sempre acarinhado de uma maneira muito especial e nunca fiz nada para ser assim acarinhado. Por isso dá-me vontade de fazer tudo o que puder por Loriga e suas Associações. E por esta, a dos BV, especialmente. Eles têm um quartel com umas instalações magnificas e infelizmente o dinheiro não chega, não estica. Eles gastaram o triplo do que estava orçamentado para as fundações e depois faltou para os interiores. Faz dois anos que este quartel está parado e partir deste momento não pode evoluir. Só se está a afundar. E isso a mim faz-me mal porque sou Loriguense, sou bairrista, sou daqui e vejo que os BV estão numas instalações lamentáveis a salvar vidas… e com umas instalações boas paradas.

As razões desta epopeia
Antes de eu ir para a Suíça os BV levavam-me para as competições e nunca me pediram um tostão. E eu ao fim de tantos anos disse: vou fazer uma aventura de 2500 kms, as pessoas compram-me kms e reverte a favor dos BV. Foi tão simples quanto isso.

NG: Qual foi a pior coisa que lhe aconteceu?
JG: O pior dia foi quando cheguei a Pui, em França, que foi das 5 da manhã até as 18 horas sempre debaixo de chuva, chuva torrencial. Muitos colegas meus foram ao chão várias vezes e eu não caí não sei porquê. Passei no meio de 6, 7 que estavam no chão e não toquei em ninguém. Entretanto houve um colega meu que ficou bastante maltratado.
A pior situação nos dias todos foi o dormir pouco. Dormíamos 4, 5 horas por noite e ao ar livre. Pouca recuperação e muito esforço.
Sinto-me bem e se tivesse que fazer isto outra vez fazia-o pelo mesmo motivo.

NG: Soubemos que tinha um orçamento para dormir em hotéis mas preferiu ficar com os seus colegas ao relento…
JG: É verdade. Um restaurante de Montreux, propriedade do senhor Ricardo e da senhora Albina financiavam-me toda a viagem, bebidas, comidas e hotel. Mas tinha um grupo de estudantes da Universidade de Lausanne (20) que dormiam nos campings, nos recintos desportivos e em parques. Então eu sentia-me mal em deixá-los ali, ir para o hotel e no dia seguinte voltar do hotel fresquinho e eles ali naquelas condições. E então eu acompanhei-os e dormi sempre ao ar livre, no meu saco-cama e passou-se muito bem. Só houve um dia que foi complicado. Dormíamos num campo de futebol e a maioria dos estudantes ocupou o coberto das bancadas eu fui o último porque estive a afinar as bicicletas por causa das quedas que ia havendo, e fiquei sem lugar debaixo das bancadas. Então decidi ir para o meio do campo de futebol porque havia uma relva fofinha. Estendi o impermeável, meti-me no saco cama e deitei-me cerca da meia noite. Às 4 e meia chovia torrencialmente e eu não dava conta de nada. Foi o diretor da Universidade de Lausanne que me acordou…

NG: Episódios mais curiosos?
JG: Durante o percurso a rapaziada começou a desanimar por causa das condições climatéricas e eu tentava sempre motivá-los cantando durante a viagem… mas em Santiago de Compostela fiquei sozinho. A Viagem era de 260 kms mas em Redondel, em direção a Vigo, meti-me atrás de um camião para cortar o vento e tentar recuperar duas horas que a TV Galícia me fez perder para uma entrevista. Resultado: deixei passar o cruzamento. Tive que andar 30 kms para trás, fiz 60 kms a mais e perdi uma hora. Quando cheguei ao Porto tinha 320 kms.

NG: Se fosse agora fazia tudo outra vez?
JG: Sim. Por Loriga fazia tudo!

O quartel
António Conde, presidente dos BV Loriga, explicou à nossa reportagem que o Quartel está praticamente pronto mas as obras estão paradas porque faltam cerca de 70 mil euros mais os encargos da dívida. Até agora a iniciativa de Jorge Garcia angariou mais de 4 mil euros.
- “Mais do que aquilo que pudermos angariar com esta ação, ela é sobretudo importante pela visibilidade que confere a esta causa e a Loriga; e porque pode constituir o clique para o despoletar de outras ações semelhantes”, explica A. Conde.
Jorge Garcia continuou, durante o resto da tarde, a cumprimentar a população que o ovacionava sem esmorecer.

Retirado do site:Jornal Nova Guarda

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